Foi notícia e piada, durante a semana passada, a 'restauração' de um afresco do século XIX em uma igreja espanhola feita por uma moradora de mais de 80 anos da região. Com boa vontade, a senhora modificou completamente o aspecto da pintura. A restauradora caiu de cama com a projeção global do seu trabalho, digamos assim, mal-sucedido!
Espanhola desfigura pintura de Cristo "Ecce Homo", de Elias Garcia Martinez, ao tentar restaurá-la
Ontem a noite, como já era de se esperar, notificaram que uma equipe de restauradores foi solicitada para estudar o que de fato foi feito na pintura e como proceder futuramente. A questão é que o prefeito da cidade e dos solícitos moradores e amigos da senhorinha acreditam que é melhor deixar a obra como está! Por que? Porque o caso elevou o turismo na região e também seria uma forma de reconhecer o esforço pictórico de Cecilia Giménez.
Desde o início, não tive dúvidas de que uma restauração seria feita para apagar a piada acidental. Mas esqueci de cogitar o senso de humor humano, sempre surpreendente. Eu penso 'como deixar pra trás um trabalho exímio, épico, um registro histórico imagético?!'. E tive que pensar também 'como não reconhecer esse erro de restauração como uma espécie de registro antropológico do local, do povo que ali habita e de como se relacionam com esse mundinho? Por que apagar algo do nosso tempo, que nós soubemos tão de perto e pode ficar pra posteridade, como a arte rupestre??'.
A pintura devidamente restaurada e sua versão mais atual já estão em um banco de dados infinito e que levará o caso para milhares de instituições que trabalham com restauro, ou simplesmente a casa de curiosos artistas, admiradores, internautas sedentos por piadelas... A obra, o restauro e/ou a piada já não são mais apenas de uma parede em uma Espanha provinciana.
E até que não é má ideia deixar Cecilia Giménez eternizada nesse afresco, pra lembrarmos que na casa do Senhor também é permitido rir.
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