Como postagem feita por mim no Facebook, "Eu não conhecia esse documentário até ontem a noite. Imagens fortíssimas dos campos de concentração, mas um relato necessário para quem precisa de doses sazonais desse genocídio, em busca de respostas sobre nosso mundo."
Trata-se do documentário "Noite e neblina", realizado por Alain Resnais em 1955, exatos dez anos após o final da Segunda Grande Guerra e o inclassificável Nazismo alemão. Esse vídeo me trouxe a genialidade desse diretor francês em se lançar numa produção cinematográfica de viés documental com uma subjetividade artística necessária: ao mesmo tempo que o filme pincela imagens e uma narração reflexiva, não somos poupados das imagens de horror que revelam dramas, histórias e fragilidades do ser - que mata, e que é morto.
O texto a seguir é uma reprodução do publicado na página do fantástico Imagens Históricas:
NOITE E NEBLINA. Direção: Alain Resnais, Texto do filme: Jean Cayrol, Música: Hanns Eisler, Narração: Michel Bouquet. França: Aurora DVD, 1955. 1 DVD. (31 min.), son., color./p.b, legendado, documentário.
O esquecimento de horrores passados promove o segundo assassínio das vítimas do Holocausto; essa é uma das premissas do filme feito pelo cineasta francês Alain Resnais. Uma década após o fim da Segunda Grande Guerra, o Comitê de História da Segunda Guerra Mundial pediu um documentário que narrasse os acontecimentos nos campos de concentração nazistas.
Dessa forma, o filme, cujo nome carrega a expressão surgida da chegada dos trens, durante a noite, sob forte neblina, em que muitas dessas noites, por falta ou excesso de nomenclatura, a SS nomeou os recém chegados apenas com: N N - Nacht und Nebel (Noite e Neblina) -, em seus 31 minutos promove o desafio da memória, buscando impedir que novas barbáries como o Holocausto voltem a acontecer. Afinal, segundo o cineasta, esse tipo de horror só sai de moda e, se esquecido, ele tende a voltar. O poeta francês Jean Cayrol, ex-prisioneiro do campo de Mauthausen, na Áustria, autor do texto presente no filme, também completou a obra capturando a atenção do espectador de forma quase poética.
Finalmente, Noite e Neblina é mais do que um registro histórico daquele período, sendo, também, o documentário possibilitará uma boa fonte de debate e um recurso contra a amnésia dos acontecimentos históricos.
Talita Lopes Cavalcante
Administração Imagens Históricas
Fosse pouco a descarga de realidade desse documentário, hoje me deparo com a seguinte entrevista em um grupo de discussão de educadores: "Entrevistei um daqueles gajos que nega o Holocausto".
A entrevista a seguir é uma reprodução da publicada em Vice/Cenas, por Jim Roberts:
O entrevistado a usar um lacinho.
O Charles Krafft é um artista plástico que tem andado nas notícias pelas piores razões: cerâmica nazi. O Charles faz bustos do Hitler, frascos de perfume com suásticas e pratos que ilustram bombardeamentos durante a Segunda Grande Guerra. Já lhe chamaram de tudo, claro: supremacista branco, nazi, negador do Holocausto, etc. Mas isto continua a ser arte. Certo?
Não é a primeira vez que um artista brinca com este tipo de simbolismo polémico de forma a abrir um diálogo fácil, e polarizado, sobre certos eventos contemporâneos, mas as alegadas ligações do Krafft a grupos de extrema-direita tornaram a sua obra em algo de genuinamente ofensivo para muitas pessoas. Quis conversar com ele para tentar descobrir se o Krafft é o Mel Gibson ou o Ali G do mundo da arte.
VICE: Como é que descreverias a arte que fazes?
Charles Krafft: Confrontacional e cómica. É uma comédia negra. Interessa-me a cerâmica não-funcional.
O que é que te atraiu originalmente para este ofício?
Olhando para outras peças não vês nenhum tipo de desafio, nenhuma referência à época em que vivemos. É como se fosse tudo do século XVIII: vaquinhas e moinhos. Quis actualizar a cerâmica, virar o conceito do prato do avesso. Pintar momentos que mudaram as nossas vidas.
Estou a ver.
Queria que tivessem o aspecto de peças que a tua avó pudesse ter em casa, mas que, ao mesmo tempo, arriscasse um duplo sentido. Comecei nos pratos, depois passei para armas e por aí fora.
Mas muito do teu trabalho tem uma certa conotação nacionalista, certo?
Sim, gosto do conceito de nacionalismo por oposição ao da globalização. Interessa-me o nacionalismo pré-Grande Guerra. Todo o nacionalismo pós-1945 foi diabolizado. Se leres literatura nacionalista pré-guerra vês que não é tão má como as pessoas dizem. Pretendo re-examinar a história dos movimentos intelectuais pré-1945. Havia muitos intelectuais de direita, hoje em dia são todos de esquerda.
Achas que a direita foi injustiçada, então? Presumo que sejas uma pessoa de direita.
Sim, julgo que sim. Foi diabolizada. Já não é possível ter uma visão imparcial. E não, sinto que estou para lá do paradigma. Não quero que me encaixem em nenhum dos lados. Mas sim, simpatizo com a direita. Acredito realmente que os comunistas estavam a tentar subverter este país, nos anos 50. O McCarthy foi muito criticado, mas tinha uma certa razão.
Mas as pessoas acusam-te de ser uma daquelas pessoas que nega a existência do Holocausto.
Estive num fórum online de extrema-direita e fiz um podcast para eles. Mas puseram palavras na minha boca. Sou da opinião que se deve re-examinar os dados que temos, mas é um tema demasiado tabu. Não entendo porquê, mas é. Há pelo menos um nazi, Valerian Trifa, cujo nome deveria ser limpo. Sou um protestante branco, é algo que herdei.
Portanto, és mais um revisionista do que um negador puro e duro?
Sou um protestante branco, é algo que herdei. Não devia haver tabus sobre nada. Algumas das provas históricas estão erradas, mas aparece sempre um judeu a queixar-se. A verdade deveria sobrepor-se sempre aos sentimentos das pessoas. Cresçam. Sei que isto é polémico, mas não sou um neo-nazi. Uso a imagética nazi de forma irónica, é um arquétipo do mal. A suástica é apenas mais um elemento da cultura popular.
E onde é que entram os teus bules do Charles Manson e do Hitler?
Ia fazer uma exposição no Reino Unido e pensei: bules. Os britânicos adoram chá.
E aquelas coisas feitas de esqueletos humanos?
Queria criar uma espécie de porcelana humana, uma maneira de imortalizar as pessoas. Pensei que pudesse ser comercializado, publiquei anúncios em revistas funerárias e tudo. Mas não tive muitos interessados. Os meus pais transformaram-se em fogo de artifício, depois de mortos, por isso pensei que pudesse haver outras pessoas interessadas em acabar num prato.
Pois, parece que não.
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Depois de uma surra dessas de questionamento, alguns educadores resgataram a Pergunta das perguntas em Arte ("Isso é ou não é Arte?"), e se existe alguma Ética na Arte, ou o famoso "limite". Também houve conclusões em que como muitos comediantes têm se excedido em suas micropostagens no Twitter e perderam a graça, o artista em questão acima 'perdeu a Arte', perdeu seu direito de ser admirado, estudado, comprado etc. E agora: quais ideias chegam até você, a partir de todas essas informações?
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