segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

A ocupação da minha escola


Eis o contexto: no meio de uma temporada de poucas perspectivas, surgiu o concurso para Professor da Educação Básica II da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo no fim de 2013 por $29 a inscrição. Sempre me diziam que concurso público para professor era algo que eu deveria fazer para conhecer a prova e, quem sabe, assumir cargo depois de um bom tempo aguardando a ordem de chamada. Quatro meses depois, eu entrava na sala de aula como professor de Arte pela primeira vez na minha vida, ao contrário de muitos educadores que apenas fazem o concurso para se efetivar na carreira pública.

Dentro da listinha de possibilidades para escola-sede, consegui a Escola Estadual de São Paulo. Sim, este é o nome da escola - simplesmente a primeira não-religiosa do Estado, inaugurada em 1894 e atualmente localizada (ou escondida) ao lado do Museu Catavento Cultural. Foi ali que percebi que, na faculdade, eu aprendi a dar aula; antes disso, no mundo real, eu precisava aprender a ser professor. E este é um processo autodidata! Podem te ensinar a preencher a presença no Diário de Classe ou a se comportar diante dos conflitos, mas uma centena de coisas virão e você terá de engolir seco e descobrir no susto. Enquanto eu aprendia a ser professor, o meu ânimo com aquele trabalho só aumentava, apesar dos acidentes de percurso. Cada aula era um novo aprendizado que me dava a sede de pensar de novo e ir adiante.

Eu tive a sorte de estar rodeado de colegas jovens na escola e na profissão no primeiro ano de trabalho, pela disposição em compartilhar o conhecimento das aulas e de tomar novas atitudes naquele ambiente todo. O segundo ano foi o momento de respirar fundo e começar a seguir com minhas próprias pernas. Mais confortável e seguro com o meu papel de professor, com o desejo de me comunicar profundamente com os estudantes, o fim de mais um ano de trabalho foi agitado pelas ocupações das escolas estaduais paulistas, em protesto a uma proposta do governo estadual chamada de "reorganização escolar".

A reorganização escolar consistia em manter ciclos únicos em cada escola: 1º a 5º ano do Ensino Fundamental aqui, 6º a 9º ano do Ensino Fundamental ali e 1ª a 3ª série do Ensino Médio acolá. Na minha escola, atendemos do 6º ano a 3ª série. O governo diz que os dados não mentem: escolas com ciclos únicos têm melhores resultados nas avaliações externas e a queda da taxa de natalidade fez reduzir a quantidade de crianças no estado, ou seja, estava sobrando escola e faltando estudante. Tudo seria friamente calculado para que ninguém tivesse que se deslocar além de 1,5km da escola antiga. E 94 escolas seriam "destinadas a outros serviços educacionais".

Como nunca se ouviu falar do grande plano antes, parecia que o SPTV estava apenas comunicando em primeira mão algo para anos futuros. Porém, era para ontem mesmo. A experiência nos fez estranhar esmola grande e logo foi ficando claro que, se as atribuições de aula de 2015 já deixaram muitos dos professores novos adidos (sem aula na escola-sede, tendo que se virar com aulas onde as tivesse), as atribuições de 2016 deixariam até professores mais experientes na mão. Os professores das escolas que fechariam ou perderiam o ciclo adequado à formação do professor entrariam na dispusta por aulas com outros professores nas escolas que escolhessem. Um cenário de guerra se anunciando, mas mantendo as salas de aulas com nada menos que 40 matriculados cada.

Se a ameaça técnica do projeto já era assustadora, a luta diária pela sensação de pertencimento que ainda vibra quando somos jovens se acendeu nas pessoinhas que são chamadas de "apáticas" em todos os conselhos de classe. Em menos de uma semana, dezenas de escolas ocupadas pelos próprios estudantes. E eu me perguntava: será que isso vai chegar "aqui"? Aí, chegou a pergunta num canto do corredor: professor, o que você acha das ocupações? E, com a leveza conquistada no meu labor, eu disse que admirava a iniciativa e a promessa de transformação profunda com as atividades promovidas nas ocupações por demanda de quem estuda "lá". E isso chegou lá.

Confesso: foi num dia em que eu não tinha aula na escola, e foi ótimo não estar lá. Pude encher meus pulmões e gritar, comemorar livremente a tomada de atitude de alunos que eu conhecia. Quase coloquei meu tênis e fui reverenciar de perto. Aguardei um "convite" da supervisão regional para ir até a escola recuperar os digníssimos Diários de Classe e conheci as instalações, os primeiros passos de transformação, organização e ressignificação daquele lugar.
O meu olhar sobre aquela escola mudou. "Aquela escola" feita de alunos e não "aquela escola" feita por Direção. Tenho muito o que conversar com eles quando voltarmos às aulas em fevereiro. Tenho muito o que reconfigurar na minha intenção única e pura de realmente fazer sentido naquele local.

A surpresa maior foi a ocupação persistir além das demais escolas, uma vez que a decisão de reorganizar foi suspensa pelo próprio governo. Eles passaram o Natal na escola! Desocuparam somente na manhã do dia 31/12. Eu soube de toda e qualquer desqualificação do protesto por meus próprios colegas professores. Chamaram de orgia, cracolândia, Sodoma-Gomorra, playground. É uma pena que pessoas envolvidas com a educação vejam os jovens o ano inteiro com a certeza inquestionável da inferioridade racial/social/intelectual deles. Pois é com essa mesma inferioridade que os alunos enxergam professores o ano inteiro. E está feito o resumo da atual conjuntura da educação no Brasil. Com um poquinho mais de atenção, fica exposto o ano inteiro o que verdadeiramente é ensinado nas escolas. Não é Português e Matemática, definitivamente.

Culturalmente, isolamo-nos em nossas especificidades. Sabemos tudo de educação, mas não sabemos nada de psicologia, de "ser" humano. Achamos que o aluno só aprende o que está na lousa, e esquecemos que ele também vai aprender com o seu desprezo, com a sua ironia e dissimulação. Ele aprenderá o que são essas coisas e como usá-las. Ele vai aprender que, quando se fecha a porta, você usa pequenos poderes e oprime do jeito que quiser. Alguns jovens vão experimentar esse ambiente com estranheza, em contraponto ao que vivem em casa; outros, vão apenas confirmar que todo mundo é assim mesmo e que respeito não existe. Qual tipo de estudante você quer ver numa ocupação?

Qual tipo de ser humano você está ajudando a construir?

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Um blog a renascer

Olá! Sejam muito bem-vindos de volta.

Depois de 27 meses, uma nova postagem é realizada em Descobertas Artísticas, um projeto iniciado pela turma de 2011 dos licenciados em Artes Visuais pela Estácio Uniradial de São Paulo. O objetivo inicial deste blog era compartilhar o aprendizado como artista-educador daqueles que estavam prestes a se formar nesta área.

Obviamente, o tempo nos trouxe outras oportunidades e prioridades que colocaram a página em último plano. Eu, em particular, sou um fã do modelo de comunicação em blogs! Acabei de atualizar meu perfil de usuário com a frase "blogueiro peregrino na rede desde 2003", pois nesses 12 anos de Internet, eu utilizei os mais diversos serviços de postagem, infelizmente me mudando várias vezes por instabilidade da plataforma ou encerramento de atividades gratuitas. Estamos falando de 2003: Internet discada a 28 kbps, com conexão vantajosa apenas após a meia-noite e a partir das 14h de sábado!

Escrever no universo digital ainda é um dos grandes prazeres da minha vida. Um exercício importantíssimo do uso das palavras, das frases e da organização do pensamento que chegará até um outro ser humano. Eu sempre disse que escreveria de modo anônimo e solitário, para que alguém que muito precisasse de apoio, um dia viesse a me encontrar dessa maneira. Há um ano e meio, um cara de Portugal comentou em uma postagem, impressionado pelo texto e pela ausência de comentários nele, uma vez que fui capaz de traduzir tudo o que ele precisava dizer a seu pai, com quem não falava há muito tempo. Ele enviou o meu texto para o pai. Senti que minha missão fazia sentido e aquilo foi combustível para mais 12 anos de peregrinação!

Depois de um longo período de trevas em minha vida, que me puxavam cada vez com mais força nos momentos finais da graduação e me impediam de sentir um prazer mais genuíno com as descobertas no mundo da Arte, cheguei em algum lugar. Fundo, sem mais chance de continuar caindo, e que uma faísca de resistência me fez escalar todos aqueles anos de volta para finalmente ver luz.

Agora, dou tempo ao tempo. Se minhas descobertas artísticas soam mais fortes há 2 anos, não me vejo em atraso de pensá-las em um blog somente hoje. Eu estou a renovar meu fôlego para verdadeiramente refletir sobre ser um professor de Arte na rede pública estadual de São Paulo em linhas binárias desta rede mundial de computadores. Em ressuscitar este blog tão querido, que tenho visitado em admiração da promessa de vida que há nele.

E não custa nada sonhar que meus colegas podem pensar novamente neste caminho comigo!

Com os melhor desejos de um ótimo fim de ano,
André Soares.

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

MAM-SP: Palestra com o artista Leo Divendal


Palestra de LEO DIVENDAL no Museu de Arte Moderna de São Paulo
Levados à terra firme numa estranha costa
05 setembro (quinta) 20h

Nesta palestra Leo Divendal irá apresentar, através de diferentes projetos e inspirações, sua
abordagem das encruzilhadas vertical e horizontal da realidade, o desejo e o conceito de vida.
A linha horizontal é a metáfora do movimento através do mundo, viajar, descobrir, pesquisar
lugsares para onde ir.
A linha vertical é a metáfora da conexão entre o céu e a terra, entre o futuro e o passado.
O cruzamento de verticalidade e horizontalidade representa a idéia de casa.
Essa idéia, elaborado pelo escritor John Berger, em seu livro 'and our faces, my heart, brief as
photos', tornou-se uma inspiração para colocar a obra de Leo em uma idéia de conceito maior.
Diferentes projetos de multimídia - fotografia, texto, música, livro, desenho, filme - serão
utilizadfos na palestra como exemplos de seu trabalho e também para tornar clara a
continuidade do seu processo.
Exemplos disso são o seu projecto 'Vézelay: or the architecture of winter' e um verdadeiro trabalho
em desenvolvimento: '36 views on absence’.
Desde o último projeto será uma parte, « Inner Court’ 'em'Internal Affairs 'da exposição, uma
exposição junto com o fotógrafo Marcelo Greco no Espaço Ophicina.

Entrada gratuita
chegar com 30 minutos de antecedência
Sujeito a lotação

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

MAM-SP: Encontro com a curadora Veronica Stigger


Ministério da Cultura e Museu de Arte Moderna de São Paulo convidam

Contatos com a arte
Programação gratuita para professores, educadores e estudantes universitários.

O Contatos com a arte fomenta a formação cultural dos participantes como
espectadores e multiplicadores das diferentes expressões artísticas exibidas no MAM.

Encontro com a curadora Veronica Stigger
14 set (sáb), 13h30 - 15h30

Inscrições educativo@mam.org.br ou +55 11 5085-1313.

A curadora da exposição Maria Martins: metamorfoses, Veronica Stigger apresentará
a trajetória artística da artista a partir de sua produção escultórica e literária, além de seu interesse pela Amazônia - diálogo com a modernidade brasileira, e a natureza como modelo para suas metamorfoses.
Atividade gratuita. Vagas limitadas.

O MAM fica no parque Ibirapuera, portão 3.

Lei de incentivo à cultura
Apoio Proac
Governo do Estado de São Paulo
Realização MAM
Ministério da cultura
Governo federal