quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Nem oito, nem oitenta


Nem oito, nem oitenta



Envolvi-me com a vida de aproximadamente, 80 jovens
De uma escola da periferia brasileira
Despertei-lhes o incomodo de não se tornarem acomodados
Alguns se afetaram muito,  sinal de verve e  alta voltagem
Uns, raros, inertes como zumbis,
já tão inseridos, que nem tem forças para fazer
o sangue chegar à cabeça e motivar o pensamento
entregues a osmose
Mas, uns tantos, que entenderam o incômodo e que
seus olhos como que brilharam,
 vislumbraram o potencial que os habita
Esse é o combustível do educador comprometido

Um relatório sincero provocou um aborto no processo
Não tive nem chance à digna despedida
e a uma mensagem de esperança
Talvez, por esses motivos,
a educação no Brasil caminha tão disparatada
Relatórios “maquiados” trazem a certeza
de que não haverá surpresas, nem esforços demasiados
para monitores, professores, coordenadores,
nem para supervisores, diretores e delegados de ensino
No papel,  quando maquiado,
a educação parece que esta a contento
Nas comparações de aprendizado, internacionais
a verdade vem à tona
somos mal classificados, medíocres até

O ser humano dá trabalho
 a construção do ser humano com alto grau de autonomia
dá muito mais trabalho
A porta larga do analfabetismo funcional esta escancarada
e muitos passam por ela
Já, a porta estreita da construção do saber e do exercício de cidadania
ainda que aberta, requer paciência,
porque só passa uma pessoa por vez

Jovens, ainda que restassem apenas oito dos oitenta
ou mesmo um, de cem
a qualidade sempre estará acima
do patamar rasteiro da quantidade
Esse motivo vale todo o trabalho

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